Não é novidade para ninguém que a mulher sergipana, assim como a do resto do Brasil, vive meio que à margem das atividades políticas, e que são poucas delas na ocupação dos espaços institucionais.

Um exemplo: das oito vagas sergipanas na Câmara Federal, nenhuma é ocupada por mulher. Apenas quatro delas detém uma das 24 vagas na Assembleia Legislativa – num índice muito baixo.

Somente em 1998 o Estado veio a ter, na pessoa de Maria do Carmo, sua primeira senadora, depois de quase 200 anos de emancipação política a serem completados agora em 2020.

Mas quem é culpado por isso? É possível determinar uma causa específica? Não é fácil, mas há indícios – e alguns deles são apontados pela vice-prefeita de Estância, Adriana Leite.

“As mulheres são ainda muito marcadas pela cultura machista e paternalista. Não é fácil romper com as cadeias que nos são impostas. Ficaram feridas muito difíceis de cicatrizar”, diz Adriana.

Apesar da constatação que faz, Adriana Leite não é fatalista e não se queda a essa realidade. Além de ocupar o posto de vice-prefeita de uma das cidades mais importantes de Sergipe, de ser professora, de presidir o PRB Mulher do Estado e também o Diretório Municipal de Estância, de ter já desempenhado algumas importantes funções públicas, como a Superintendência da Secretaria de Estado da Mulher, da Inclusão e Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos, Adriana querer mais espaços.

Ela é, desde já, uma pré-candidata a deputada estadual. “É urgente o fortalecimento da participação política da mulher, impulsionado por todos para alcançarmos a tão almejada equidade. Ressalto: a igualdade política é uma questão de justiça e não de disputa entre os sexos”, diz. Conheça mais pontos de vista de Adriana Leite.

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“É urgente o fortalecimento da participação política da mulher”, alerta Adriana

Aparte – Contempla-lhe o fato de em 24 deputados que compõem o Legislativo de Sergipe apenas quatro ser mulher, numa proporção de menos de 20%?
Adriana Leite –
 Não, e essa realidade precisa mudar. Urge aumentar a presença das mulheres nas casas legislativas. Muito embora tenhamos obtido algumas conquistas, como por exemplo, cotas de candidaturas, mas ao meu ver o ritmo dos avanços tem sido lento demais. Entendo que deveria existir um percentual mínimo de efetiva presença/ participação de cada gênero, o que pode ser alcançado ampliando-se o efeito das reservas legais de candidaturas para as reservas de cadeiras nas Casas Legislativas das três esferas. Saliento que, apesar da sub-representação das mulheres, temos tido boas, atuantes e corajosas parlamentares.

Aparte – A senhora teria uma justificativa para tão baixa representação feminina?
AL –
 As mulheres se deparam com barreiras muito fortes. Suas candidaturas recebem pouco apoio, muitas são incluídas no processo apenas para preencher as listas partidárias. Tal situação é vergonhosa à medida em que somos a maioria do eleitorado e da nação. Nossa democracia está fragilizada.

Aparte – Seria mais omissão delas ou uma imposição masculina?
AL –
 As mulheres são ainda muito marcadas pela cultura machista e paternalista. Não é fácil romper com as cadeias que nos são impostas. Ficaram feridas muito difíceis de cicatrizar. Rótulos, preconceitos, discriminação são os principais fatores da sub-representação feminina nos espaços de poder. Por isso é urgente o fortalecimento da participação política da mulher, impulsionado por todos para alcançarmos a tão almejada equidade. Ressalto: a igualdade política é uma questão de justiça e não de disputa entre os sexos.

Aparte – A senhora pretende ser deputada estadual e tem como base a cidade que deu a primeira deputada estadual de Sergipe. O seu foco de campanha vai dar que atenção à questão de gênero?
AL – 
É óbvio que o empoderamento feminino é minha principal bandeira. E com ele pretendo alcançar metas comuns a homens e mulheres, como educação, saúde e segurança. Deste último tópico, todos sabem que a mulher é a principal vítima. Como comprovam os altos índices de violência contra ela, principalmente no âmbito doméstico. E esta é uma triste e lamentável realidade contra a qual já venho trabalhando há quase 10 anos. A exemplo do projeto AME-SE – Ação das Mulheres de Estância Sergipe -, cujos objetivos incluíam a conscientização da mulher da existência de legislação específica em defesa dela, a Lei Maria da Penha, cuidados com saúde e atividades culturais. Políticas públicas efetivas de elevação da autoestima e busca de direitos.

Aparte – Com a mulher sendo de 3% a 4% a mais na composição do eleitorado nacional e sergipano, não lhe parece que falta nela maior noção de peso e poder dela?
AL –
 A pública e notória vitória das mulheres nos diversos concursos públicos têm comprovado a competência intelectual e profissional feminina. No âmbito eleitoral, parece-me haver dois entraves: primeiro, da própria quantidade de mulheres que se predispõem a serem candidatas e efetivamente disputar o pleito numa tradição cultural de serem esses espaços ocupados só por homens. Vale lembrar que mais da metade das vagas é ocupada por reeleitos, os quais são homens na maioria.

Aparte – Sem segregação de gênero, a senhora apontaria uma sensibilidade maior da mulher para as causas sociais na esfera pública? 
AL –
 Existem mulheres e homens com grande sensibilidade social. Possivelmente, pela responsabilidade precípua da mulher pela família, ainda seja no Brasil essa a atual realidade. Com o ingresso das mulheres no mercado de trabalho e os homens começando a assumir muitas das responsabilidades do lar antes afeitas exclusivamente ao sexo feminino, no futuro poderá vir a ter a uma situação de igualdade.

Texto e Fotos: JL Política