Nos últimos dias, uma campanha para arrecadar fundos para o tratamento de uma estanciana tomou conta das redes sociais. Comovidos pela história da jovem mãe de dois filhos, muitos internautas se sensibilizaram e passaram a compartilhar o texto que retratava o drama relatado por ela. No entanto, passados alguns dias após o início da campanha, passou a circular nas redes sociais e nas conversas de esquina boatos acerca da não veracidade da doença  relatada por Aline Silva de Carvalho, 32.

Com o intuito de esclarecer toda essa polêmica, a redação do “Diário Sergipano” visitou a jovem Aline na última sexta-feira, 10, para uma entrevista exclusiva  onde ela fala sobre a doença, seu tratamento, mágoas, a campanha, investigação policial, boatos, entre outras coisas. Acompanhe agora, em primeira mão, a entrevista de Aline ao DS:

  1. Quando você descobriu que estava com a doença?

ALINE: Eu descobri no final de outubro 2016

  1. Como foi a aceitação dessa notícia.

ALINE: A princípio não aceitei. Como todos sabem, eu gosto muito de farra , gosto muito de curtição, gosto muito da noite e eu não queria parar de curtir, eu já tinha passado por um processo de tratamento há 4 anos atrás, por conta desses linfonodos na minha garganta. Fiz um tratamento e fiquei boa, assim dizia o médico, que eu estava liberada. Quando foi em outubro do ano passado, na primeira quinzena eu fiz os exames e diagnosticaram os linfonodos, daí procurei o cirurgião cabeça-pescoço que já tinha me acompanhado há quatro anos atrás e ele me encaminhou para um especialista porque ele suspeitava que fosse algo na tireoide e não era, era na região cervical e na garganta. Daí fiz todo o tratamento conforme essa médica prescreveu durante 4 meses, porém, não surtiu efeito e tudo isso passei sem que ninguém da minha família soubesse.

  1. Quando você tomou coragem para comunicar a sua família. Quem foi a primeira pessoa a saber?

ALINE:  foi em fevereiro deste ano, no dia 23 que resolvi contar para minha melhor amiga, minha filha Íngride, que na época tinha 14 anos.

  1. O que você fez após contar sobre a doença para sua filha?

ALINE:  Continuei tomando a medicação e fazendo o tratamento prescrito pela médica, com comprimidos em casa. Quando terminou o tempo desse tratamento, que foram 4 meses, retornei para fazer os exames e foi constatado que o efeito surtido foi pouco e que precisaria dobrar a dosagem.

  1. Quando você descobriu os nódulos na mana?

ALINE:  No final de abril eu amanheci com muitas dores no pescoço e cansada. Ao ser examinada, foi constatada através de ultrassom mamaria a existência de dois nódulos. Em junho já tinha 4 nódulos na mama direita. No dia 11 de julho fiz a cirurgia na mama e ao retornar, 15 dias após, descobriu mais um nódulo, daí, ao  voltar  para Dra. Alicia foi constatado a necessidade do tratamento venoso,  através de 12 injeções. Posteriormente passou para  4 sessões de quimioterapia, tudo isso de forma particular.

  1. Sua garganta já está curada?

ALINE:  Ainda existem os linfonodos na garganta, no entanto, não são malignos.

  1. Onde está o tumor que você precisa tratar?

ALINE:  Na mama que retirei o quadrante em julho.

  1. De quem foi a ideia da campanha e com qual objetivo?

ALINE:  A campanha foi uma ideia minha. Na verdade,  a campanha foi feita para que eu pudesse fazer uma viagem para Pernambuco para passar por um especialista, uma equipe de especialista em Pernambuco. A princípio a campanha seria para isso, para custear minha ida para Pernambuco. Depois que eu passasse por todo o processo em Pernambuco, onde eu iria com meus recursos próprios (arrecadado),  e depois que eu conseguisse entrar nesse hospital, ai eu iria passar a fazer o tratamento  pelo SUS.

  1. Como começou toda essa polêmica sobre a sua doença?

ALINE:  Essa confusão toda se deu porque eu estive internada por oito dias, só que oito dias antes do meu internamento eu estava  indo diariamente para o hospital, estava a base de morfina e cloridato de metadona de 10 mg. Quando recebi alta médica o meu marido  me chamou para passear. Fomos na casa de um casal amigo nosso no recanto verde e ao retornar passamos no XPTO, no Bar de Jr. Ele tomou três litrinhos  de cerveja  e tirou uma foto nossa e essa foto eu postei no face. Depois que postei essa foto no face começou a bagaceira, as pessoas dizendo que eu fiz a campanha para bancar macho, que o copo de cerveja na mesa era meu, que eu não estava doente, que arrecadei 120 mil, 200 mil, que comprei uma Hilux ( me viram na Hilux do meu cunhado e disseram que era minha), que o carro que meu marido comprou foi em meu nome, porque eu iria morrer e morto não paga, que eu comprei uma casa no Alecrim, reformei a casa toda, botei piscina, que todos os  finais de semana eu estou no Lunary. Quem me conhece na cidade sabe o quanto eu gosto de viver, de dançar, e desde então, a última festa que eu tive foi no dia 2 de dezembro do ano passado.

  1. Com está sendo essa repercussão da campanha em sua vida?

ALINE:  Está  sendo péssimo, porque a minha família está sofrendo. Meu  filho está em Aracaju com problemas de saúde, minha filha não está indo para a escola, as pessoas ligam para seus familiares, minha irmã está sem conseguir dormir,  meu pai está de cama, minha mãe sofrendo e eu estou sem conseguir trabalhar por medo, estou me  sentindo ameaçada, pois foram até o meu trabalho a minha procura. Não estou conseguindo dormir, trabalhar e nem manter a minha rotina.

  1. Você continua o tratamento? Com quem?

ALINE:  Voltei  para Dra. Alicia, inclusive tive  atendimento ontem ( quinta-feira, dia 9).

  1. Atualmente está fazendo quimioterapia?

ALINE : Não. Estou  tomando medicamentos. São  5 comprimidos diários que substituem a quimioterapia.

  1. Já esteve alguma vez na delegacia para tratar sobre esse assunto?

ALINE : Fui à delegacia para fazer um B.O porque eu queria saber quem estava fazendo essas postagens.

  1. Recebeu alguma intimação?

ALINE:    Nunca fui  procurada pela polícia.

  1. Por que você acha que saíram com essa conversa que sua doença era uma farsa?

ALINE: Procuraram investigar o meu cartão do SUS, e no meu cartão do SUS não tem nada, afinal, fiz tudo particular. Até as aplicações que tomei no João Alves eu tomei por debaixo do pano.

  1. Você continuará fazendo o tratamento por debaixo do pano?

ALINE : Não. Ontem, conversando com a minha médica por conta dessa problemática, ela me deu um encaminhamento para dar entrada lá para evitar qualquer questionamento que prejudique o meu tratamento.

  1. Já que você está doente, porque então não apresenta os exames e acaba com essas especulações?

ALINE: Não vejo  motivo para estar me  esclarecendo, pois só eu sei a dor e tudo que estou  passando. Quem me conhece sabe o  quanto eu amo a vida, o quanto eu gosto  de viver.

Eu não apresentei porque eu não vejo motivo de me expor mais. Eu tenho meus exames, perdi alguns, mas tenho um B.O porque perdi também a minha habilitação, identidade e alguns exames. Ontem (quinta-feira)  eu fui para Aracaju para a médica e aproveitei para passar nas clínicas para pegar a segunda via dos exames. A  minha biópsia eu tenho em casa guardada. Eu não apresentei porque ao meu ponto de vista é muita ousadia. É  a mesma coisa que pegar um ser humano, cortar ele e jogar em alto mar, só vai atrair tubarões e o que o povo quer é isso, polêmica em cima de polêmica.

É horrível você ter que está se explicando. Eu estou me sentindo constrangida, é assim que estou me sentindo. Eu não estou  mais aguentando a situação.

  1. Você está com câncer em 80% do seu corpo?

ALINE: Existem as células cancerígenas em 80% do  corpo. O que acontece é que elas se desenvolvem e podem não se desenvolver. O fato de eu ter as células no corpo não quer dizer que eu tô com câncer na cabeça, nos ossos. As células existem, mas elas não se desenvolveram para honra e glória do senhor.

  1. Você ainda precisa dos comprimidos?

ALINE:  Os comprimidos que eu precisava eu já consegui.

  1. Quanto você arrecadou com essa campanha? O que vai fazer com esse dinheiro?

ALINE:  O dinheiro que foi arrecadado está guardado porque eu vou fazer essa viagem para Pernambuco, eu não mexi em nada. O  dinheiro que foi arrecadado foi R$6.800,00 (seis mil e oitocentos reais), eu não tenho porque aumentar ou diminuir. Nem foi  dez, nem cem, quem dirá duzentos mil. As especulações existem, as pessoas falam, falam muito sem saber, sem ter fundamento. Ninguém procurou Aline para perguntar nada. Vou  viajar pra Pernambuco para fazer exames e passar por especialistas.

  1. Recentemente uma vizinha sua, que trabalha na área da saúde, fez uma postagem onde dizia que você não tinha a doença. Você acredita que ela fez isso por que?

ALINE:  O que minha vizinha postou foi baseado em meu cartão do SUS. O Fato de eu não ir ao setor de marcação deve ter incomodado alguém. Fiz tudo particular, por isso não existe nada em meu cartão SUS.

  1. Como você tem conseguido as medicações?

ALINE:  Eu tenho empurrões, tenho chute, tenho tudo dentro do João Alves .  Tenho bastante amizades e isso  influenciou  para que eu  conseguisse  a medicação. Tenho pessoas dentro do João Alves e quando você  tem empurrões as coisas são diferentes. Graças  a Deus tenho boas influências dento e fora  do João Alves, por isso consegui as medicações, através das influências que tenho e  das amizades que eu tenho dentro e fora do hospital. Toda a medicação que eu precisei após o período que eu não tinha mais dinheiro eu consegui através das minhas influencias, das amizades e da família.

  1. Quanto você já gastou em seu tratamento?

ALINE:  Eu já   gastei  mais de 70 mil com o tratamento ( fora a cirurgia).

  1. Você está preocupada com o que as pessoas pensam sobre você?

ALINE:   Estou extremamente tranquila, pois só eu sei o que estou passando. Eu acho que sou vaidosa demais para arrancar meus cílios, tirar toda a minha sobrancelha, raspar a minha cabeça. Só uma pessoa louca e   insana pra inventar uma coisa dessa.

  1. Sua conta bancária foi suspensa? Procede a informação que o juiz lhe desmascarou?

ALINE:  Não procede a notícia que  o juiz da comarca de Estância me  desmascarou, que a conta no face está  bloqueada e muito menos   que a minha  conta bancária esteja bloqueada. A conta bancária da campanha  é a mesma que recebo meu salário e a pensão do meu filho, não tem bloqueio de nada.

  1. Qual a mensagem final que você deixa para todas as pessoas que estão lendo essa reportagem?

 ALINE:  Gostaria de  agradecer a todos que estão ao meu lado nesse momento. Agradecer mesmo de coração, porque as pessoas que me conhecem sabem o que estou passando. Os amigos verdadeiros, cada mensagem  que eu recebo de pessoas que me conhecem e até mesmo que me conheceram durante o tratamento e veem a situação, que sabem da situação.  Eu  agradeço  a todos e para aqueles  que fizeram isso, eu não vou fazer as mesmas coisas que elas, porque a gente só dá aquilo que tem , então desejo a elas que  sejam muito felizes e que tenham paz , porque o que essas pessoas proporcionaram a mim nesses últimos 20  dias tem sido dias de terror dentro da minha casa, com os meus filhos e principalmente com os meus pais.  Deus é maior, e mesmo as coisas andando a passinho lento, um dia elas  vão se resolver.

Por: Pisca Jr